Do nosso associado A Nuno C Santos, que felicitamos, recebemos cópia da mensagem enviada para a câmara de Odemira.
“Tenho 76 anos. Sou associado do Clube Português de Autocaravanas e do Caravan Club inglês.
Aos 15 anos, acampei no Monte de Areia do Portinho da Arrábida, frente à Anicha. Uma canadiana, um calção de banho, uma garrafa de água reabastecida numa fonte local. Não incomodei ninguém, e na vila era bem vindo e acarinhado pelos (poucos) habitantes. E pelo (pouco) comércio local, onde comprava as latas de sardinha ou salsichas, e pelas tascas onde “petiscava”.
Pouco mais acampei (mas acampei !), pois tive a sorte de ter um local no Alentejo onde podia conviver com as pessoas e a Natureza, dormindo debaixo de telha ! E trepar às árvores, e comer fruta directamente da árvore. E tomar banho nas “presas”, ou banho de “celha e balde”. Ou ser convidado para partilhar uma refeição de uma batata e uma sardinha. Que eram um banquete, pelo molho de amizade que acompanhavam!
Aos 30 anos, casado e com descendência, mas cada vez mais amante da natureza e da Humanidade, tornei-me caravanista. Quase sempre fixo, para os fins de semana. Maioritariamente em parques de campismo, pela comodidade do aquecimento eléctrico no inverno, e pelos banhos quentes todo o ano. Poucas refeições confeccionadas no equipamento, quer pela comodidade, quer pelo contacto com os locais. Nos vários parques, muitos invernos como utente único. Sempre acarinhado pela população local e pela restauração, onde aprendi a adorar a culinária das muitas e várias regiões por onde passei. Não me recordo de uma única reclamação ou mesmo só critica.
Aos 60 anos, “virei” Autocaravanista. Até hoje!
Nunca fiz um despejo de águas negras fora do sítio. “Acampei” muitas vezes – abri o toldo, pus mesa e cadeiras cá fora. Raramente ou nunca cozinhei. Que eu saiba, nunca incomodei ninguém!
Fui passar 15 dias em UK num natal, visitando uns netos. Estacionando e dormindo nas traseiras da casa. Acabei por visitar todo o país, mais Wales, durante 3 meses. Quase exclusivamente em parques de campismo. Mas por exemplo em Denham, aconselho o restaurante pub Green Man, onde tomei as refeições todas durante 3 ou 4 dias, e me disseram para voltar sempre!
E agora, em dezembro, estive em Serpa, mais de uma semana, onde aconselho o restaurante Molhó Bico, ou o Engrola, ou A Piscina, este a 200m do Parque de Campismo. Quando me vim embora, no restaurante esplanada onde diariamente tomei o pequeno almoço, despediram-se com um abraço e um “volte sempre, que é bem-vindo”.
Conheço Odemira, mais as praias e toda a região em redor. Sempre fui bem acolhido.
Tenho uma Autocaravana. Não uma roulote. Se não posso usar, desfaço-me dela. Quem fica a perder são principalmente o comércio e hotelaria/restauração. Aos 76 anos fico por casa. Tenho excelentes restaurantes e tasquinhas na minha zona. Tenho praias. Tenho panoramas de tirar o fôlego. Para quê ser incomodado por ignorantes prepotentes ?
Mas agora, a Odemira, de que gostava, garanto que não volto. Respeitando os outros, tenho o direito de ser respeitado ! Se não posso pernoitar em Odemira, após um bom jantar, tenho muitos outros sítios onde descansar, antes de me dirigir a um parque de campismo.
E já agora, é pelo menos estupidez ou ignorância pacóvia esta “legislação”, agravada pela incompreensão de alguns municípios. Criar áreas para CHAMAR autocaravanistas é fácil e barato. E eles agradecem. Fazer cumprir as leis já existentes punindo quem abusa, por desconhecimento ou má fé, nem sequer tem custos. Pior ainda se incentivando “vingadores” populares de paus e pedras. Pelo contrário. Uma chamada de atenção pelas autoridades para as diferenças entre estacionar ou acampar, ou aconselhamento de melhores locais para ficar, etc, só beneficia as localidades. E se for comigo, eu agradeço. A prepotência punitiva tipo “licença de isqueiro” salazarenta e pidesca, só afasta e indispõe os visitantes.
Como orgulhosamente alentejano, dói ver o meu “país” proceder assim!
Ass: A Nuno C Santos”
A Direção