O “nosso” Douro é uma região onde sempre encontramos algo que nos encanta, seja conhecido ou ainda desconhecido.
Meia dúzia de casais amigos que lá tinham andado comigo na Páscoa de 2002 andava a desafiar- me para regressarmos lá. Por isso, indo eu conhecendo um pouco a zona, sugeri-lhes uma semana de férias, aproveitando os feriados em Junho. A adesão foi entusiástica e global.
O nosso meio de transporte é a autocaravana, veículo transformado para turismo itinerante, que proporciona uma forma assaz diferente de usufruir dos momentos de lazer. Eu destoo deles com uma caravana, algo convertida para poder acompanhar os meus amigos.
Concentrámo-nos em Vila Nova da Barquinha ao final de uma quinta-feira, no aprazível e recente Parque Almourol ribeirinho ao Tejo, seguindo para Fajão, no coração da Serra do Açor (concelho de Arganil), onde um famoso cabrito assado nos esperava, finalizado por uma tigelada genuína da qual restou apenas a… tigela! Após um repouso mais moroso, prosseguimos para Norte, via Arganil e Tondela, até Vouzela, onde pernoitámos. Depois de instalados e jantados, fomos cavaquear até um café na base do proeminente viaduto ferroviário, algo parecido com o de Pala.
De manhã, após compras alimentares no comércio local e uns pastéis regionais a acompanhar o café, prosseguimos para Norte, pois pretendíamos almoçar já à beira Douro. Atravessámos o Rio Vouga nas termas de São Pedro do Sul, passámos no centro de Castro Daire, e a subida para as Portas de Montemuro antes do meio-dia e sob um céu límpido proporcionou o panorama deslumbrante para Sul, onde predomina o São Macário e o invulgar Portal do Inferno, onde todos nós também já por lá passámos noutro passeio por montes e vales. Uns dois ou três quilómetros na descida para Cinfães, parámos na óptima fonte para refrescar e apreciar a zona superior do vale do Bestança, sobressaindo Alhões. Prosseguimos para o melhor miradouro do Douro, o de Teixeirô (acesso pela EN 222 na descida de Cinfães para o rio), onde preenchemos na totalidade o pequeno largo arborizado e aí almoçámos calmamente no melhor restaurante ao ar livre do Douro (opinião subjectiva, claro), cavaqueámos ou descansámos, e fomos a pé até ao miradouro propriamente dito, agora que já estávamos de férias propriamente ditas (com reduzidas distâncias para percorrer).
A meio da longa tarde regressámos a Cinfães, onde passeámos pelo centro e parámos numa esplanada. Descemos ao rio, cruzámos a harmoniosa ponte de Mosteirô e estacionámos no cais fluvial de Pala, onde jantámos e pernoitámos. Procurámos pelas laranjas ditas famosas, mas não encontrámos.
O amanhecer do terceiro dia perspectivava outro dia de céu radioso. Gorada a hipótese de passeio fluvial numa embarcação da zona, neste dia tivemos o apoio do jovem cinfanense Sérgio Sousa, nosso conhecido desde o primeiro passeio colectivo por lá, que nos levou à praia fluvial de Paços de Gaiolo, depois à Barragem do Carrapatelo – onde experimentámos o eco de uma vuvusela na eclusa – e de seguida à agradável Ribeira do Sampaio. Retomado o andamento, atravessámos o Rio Bestança junto do entroncamento para Boassas, e fizemos uma pausa em Caldas de Aregos. O almoço estava reservado em Porto de Rei; na descida, apanhava-se cereja, embora fosse sábado; e o porto estava muito movimentado… em terra, com várias excursões além de inúmeros particulares. A agradabilidade do local para piquenique, associada à fama da fritada de peixe da Sr.ª D. Alice (que uma vez mais fez sucesso entre nós), vai promovendo a progressiva utilização deste aprazível local.
Como estávamos folgados no tempo, o Sérgio Sousa levou-nos ao miradouro do Penedo de São João, onde decorria uma pequena quermesse. Apreciado o panorama e participado na quermesse, prosseguimos serra acima até à Panchorra, pensando ir vir a rústica ponte; mas o acesso para as autocaravanas verificou-se difícil, e apenas alguns de nós desceram para vê-la. A pernoita seria em Resende, pelo que descemos, agora via miradouro de São Cristóvão. Estacionámos próximo da piscina coberta, e apercebemo-nos que iria haver um serão musical no auditório, patrocinado pelos Dragões de Resende; pois não faltámos, embora entre nós não houvesse fãs portistas, e até gostámos. A noite estava agradável, pelo que terminado o serão demos um passeio pela vila.
Depois de noite sossegada, a manhã do quarto dia, domingo, começou a provarmos cavaca s em dois ou três estabelecimentos, para divulgar aos amigos este doce peculiar, assim como comprar mais algumas cerejas. Zarpámos para oriente a meio da manhã, via Barrô (sem espaço para estacionarmos), avistando Mesão Frio na outra margem, e descemos pela encosta onde se situa o recente aproveitamento hoteleiro de Vale Abraão até alcançarmos a Quinta da Pacheca, em cuja frondosa alameda estacionámos para visitar a zona de pisa de uva, adega e escritório (actual loja). Aproximava-se a hora de almoço, e escolhemos o monte de São Leonardo da Galafura para piquenique (apesar do afamado restaurante no mesmo local). Depois, fomos ao miradouro, na traseira da capela, para tirar fotografias de cada casal e em grupo. Um dos casais não tinha disponibilidade para mais férias, e iniciou o regresso a casa.
Depois de momentos de repouso e apreciar o extenso panorama, identificando alguns cumes envolventes, acicatámos os nossos amigos para numa próxima vez efectuarem a inesquecível descida de Galafura para Covelinhas. Descemos à cidade do Peso da Régua, estacionámos no espaço reservado para o nosso tipo de viaturas, e fomos visitar o recente Museu do Douro. Pessoalmente, apreciei muito o filme de uma das últimas descidas em barco rabelo, obtido por repórter da RTP. A tarde estava tórrida, pelo que refrescámo-nos numa esplanada, passeámos pelo cais tendo visto antes até onde sobe o nível do rio em época de cheias remotas e recentes, e só mais tarde retomámos o andamento para um outro mirante duriense de renome. Para aceder, atravessámos o rio para a margem Sul, subimos na direcção de Armamar, avistámos a concha gigante onde se localiza a povoação de Valdigem, e chegados a Fontelo, virámos para o monte de São Domingos da Queimada, coroado pela capela românica de São Pedro, agora acompanhada de antenas. No panorama quase circular, predominam as Serras do Marão e início da de Alvão, com Peso da Régua na base, mas também a de Meadas com Lamego; o pequeno Rio Balsemão quase não se avista, e ainda menos a muito interessante capela de origem visigótica de São Pedro de Balsemão (a visita ficará para uma próxima). O parque de campismo existente muito próximo do cume estava fechado, e sem informação de quem contactar (viemos a saber na manhã seguinte que haveria que telefonar para a Junta de Freguesia…), viemos pernoitar à entrada de Fontelo.
Na manhã seguinte (e já estamos a meio das mini-férias…), seguimos para Armamar, onde parámos para ir às compras de víveres, à feira semanal, e visitar a igreja matriz. Prosseguimos por Vila Seca onde virámos para descer a Marmelal e daqui ao Rio Douro em frente a Covelinhas, acompanhados por extenso panorama sobre quintas arduamente cultivadas em
ambas as margens. Prosseguimos à beira-rio para montante até ao vale do Rio Távora que subimos até Tabuaço e prosseguimos até ao sobranceiro Miradouro da Pedra Escrita. Parámos próximo para almoçar; viemos a pé até ao miradouro; saciados com o panorama, voltámos a Tabuaço e fizemos uma incursão no vale superior do Rio Távora, pensando ir ver a recondida capela de São Pedro das Águias. Mas o início da estrada de acesso não se afigurou compatível às nossas viaturas, a distância a pé também era considerável, pelo que ficou para uma próxima oportunidade. Contornámos o vale por Riodades, fazendo uma pausa num café. Prosseguimos até ao extremo do planalto, em Valença do Douro, onde nos esperava a descida mais bonita do Douro antes que o sol baixasse muito e algumas encostas ficassem na penumbra, permitindo avistar o monte cónico da Quinta das Carvalhas, a acentuada inflexão do rio quando vem do Pinhão, a margem oposta com Chanceleiros e quintas de nomeada, assim como a disposição de vinhas em duas linhas paralelas horizontais numa e noutra quinta da margem esquerda que descemos. Pena não haver um recanto para parar uns minutos, nem que seja um automóvel, nesta panorâmica descida.
Regressados à beira-rio, tivemos o contacto via rádio CB de um casal que só hoje se juntava a nós para os restantes dias. Encontrámo-nos no Pinhão, indo estacionar no parque anexo às pontes pedonal e ferroviária na foz do Rio Pinhão, onde jantámos, demos um passeio pedestre nocturno e pernoitámos.
Despertados pela passagem do comboio, a manhã do sexto dia iniciou-se com a ida a pé até à Quinta de La Rose, para visita guiada e prova de vinhos. Um de nós tinha levado a autocaravana, para trazer as compras que lá fizéssemos; também veio a servir para trazer alguns de nós, pois surgiu chuva copiosa não muito duradoira. Embarcados nas viaturas, subimos a Favaios, via estrada secundária de Cotas e Castêdo para transitarmos num “mar de vinhas” conforme expressão lida há tempos, e chegados à adega cooperativa já à hora de encerramento, almoçámos ao pé esperando a reabertura. Também aqui adquirimos algum néctar para uso próprio e oferecermos. Paramos ali já a seguir, em Alijó, para fazermos compras de víveres e outras e passearmos pelo centro da vila (realce para o monumento ao carregador de cestos de vindima /quão árdua esta tarefa!) e à árvore monumental), e iniciamos o regresso à beira-rio por São Mamede de Ribatua, tendo parado a meio da descida para apreciar o alcantilado vale do Rio Tua, onde se avista o troço ferroviário numa parte já sem via noutro ainda com ela. Percorrida vagarosamente a réplica à escala da Ponte da Arrábida, como chamamos à ponte rodoviária sobre o Rio Tua quase na foz deste, entramos mesmo para a zona da estação ferroviária de Foz Tua. Duas contradições chamam à atenção: uma casa recuperada com notável obra em madeira (varandas, janelas); uma locomotiva a vapor abandonada (grande é a propagação da corrosão em oito anos). Sendo meio da tarde, uma pausa no único mas conceituado café e restaurante local, para refrescar e fazer umas compras de produtos da zona.
Como estamos à beira-rio, a saída é voltar a subir… via estrada municipal de Ribalonga (com umas curvas em cotovelo e inclinação que nos fazem lembrar estradas alpinas) na direcção da vetusta Carrazeda de Ansiães, onde viramos para a zona de lazer de Fonte Longa junto a pequena barragem. Feita uma pausa, seguimos para Vila Flor, onde pernoitamos no parque de campismo anexo à Barragem do Peneireiro.
E já estamos na manhã do sétimo dia! Como a piscina ainda está fechada, descemos para a vila, onde tomamos café, visitamos o pequeno mas muito variado museu municipal, compramos pão ainda a sair de forno de lenha. Passa do meio da manhã quando saímos da vila a caminho da Barragem da Valeira; a meio da descida íngreme, paramos para apreciar demoradamente a obra hidráulica e a agreste paisagem envolvente onde predomina o monte de São Salvador do Mundo; o trabalho de há séculos de adaptação do solo à vinha também é de nos fazer meditar sobre as canseiras dos nossos antepassados. Retomamos a descida, atravessamos o tabuleiro e paramos para almoçar antes do meio da subida, num arruamento plano à esquerda que deverá ter sobrado da construção; um navio-hotel aproximava-se da eclusa para subir, permitindo-nos acompanhar a manobra da saída, invulgar neste caso, e comparar o efectivo grande estrangulamento do maior rio da Península Ibérica no dito Cachão da Valeira.
Com o monte de São Salvador do Mundo ali ao pé, não podíamos prescindir de subir ao cume; o dia encoberto não impediu de impressionar quem o desconhecia. Passando junto à Quinta de Cidrô (visita não autorizada), estacionámos em São João da Pesqueira, onde revimos os painéis de azulejos no átrio e escadaria dos paços do concelho, e passeámos até ao centro histórico. A hora de saída não permitiu descer à Ferradosa e subir pelo miradouro da Quinta de Vargelas, pelo que seguimos directos a proximidades de Horta de Numão, para efectuarmos uma incursão inédita para todos nós a um vulcão no Douro… que foi irmos até à afamada e enorme Quinta do Vesúvio, cujo palacete fica à beira-rio e junto ao apeadeiro ferroviário. Um dos momentos marcantes destas férias! Na outra margem, avistamos a aldeia ribeirinha da Foz da Ribeira. No regresso, sob tempo bastante encoberto, viramos para Este por uma pequena represa na direcção de Seixas, daqui via Mós e Santo Amaro, donde avistamos o vale entre Pocinho e Vila Nova de Fozcoa durante a descida até às proximidades da Quinta do Vale Meão, atravessamos o Pocinho e a respectiva barragem, reentrando na margem direita do Douro a caminho dos arredores de Foz do Sabor, pois tínhamos reservado uma fritada de peixe do rio numa aldeia próxima. A pernoita foi na praia fluvial da Foz do Sabor.
Amanheceu com luminosidade. A partida foi pelas usuais 10 h, subindo a Torre de Moncorvo, onde prevíamos desdobrar-nos em dois grupos para visita pedestre: os mais afoitos desceriam a pé a linha ferroviária até ao Pocinho (percurso que um amigo recomendara há uma dezena de anos) pois avistam-se os vales do Sabor e da Vilariça sob diversos ângulos, onde algum dos outros os iriam buscar; os restantes ficariam pela vila. Mas o passeio pedestre ficou sem efeito, porque as silvas invadiram a via nestes anos de inactividade… pelo que reagrupámo-nos na conceituada loja dos doces de amêndoa. Dada uma volta pela vila, prosseguimos para oriente, parando em Carviçais para almoçar, tendo como destino Freixo-de-Espada-à-Cinta. Choveu enquanto fazíamos alguns reabastecimentos, mas tivemos ocasião de ir ver o freixo e a dita espada (moderna…), e o Museu da Seda (seda natural, obtida dos casulos dos bichos-da-seda). Ainda tínhamos de descer à praia fluvial da Congida, não só para a ver após a remodelação, mas porque o barco intermunicipal nos esperava para um cruzeiro fluvial de uma hora. Regressados a terra, apreciámos a calmaria do crepúsculo e os assadores no local inspiraram alguns de nós para grelhados para jantar; pernoitámos aqui.
E amanheceu o último dia, o nono, algo encoberto. Ainda havia mais uns montes e vales a rever ou descobrir, nesta época do ano sem a companhia das amendoeiras em flor. Voltámos a Freixo, descendo até quase Barca d’Alva, virámos à direita subindo pelo vale meio desfiladeiro da Ribeira do Mosteiro, em cujas margens avistamos rochas encarquilhadas há milhões de anos, e estacionámos junto ao acesso à Calçada de Alpajares para saborear esta paisagem esquecida no tempo. Prosseguimos lentamente subindo o vale, parando aqui e acolá, passámos junto a Poiares e alcançámos o miradouro do Penedo Durão, o mais imponente do Douro internacional! Avisados para falarmos baixo, para não afugentar as aves de rapina, avistámos algumas mas que voavam acima de nós e ainda não ao nível da falésia como noutras ocasiões; observada a Barragem de Saucelle, as vinhas algumas centenas de metros abaixo, e o planalto de Castela-a- Velha, almoçámos nas nossas casas rolantes. Antes da pausa para café em Barca d’Alva, ainda nos esperava uma imponente descida e correspondente panorama, quando se sai do planalto de Poiares e temos de descer até quase ao leito do rio umas boas centenas de metros abaixo; à cautela, parámos por duas vezes, para recuperar os travões. Ultrapassado este último desafio, poucos quilómetros nos separavam de Barca d’Alva, cuja ponte atravessámos e estacionámos no agradável cais fluvial, para ir tomar o café no varandim do Cantinho da Cepa Torta.
Tínhamos terminado estas mini-férias à beira do Douro. As impressões recolhidas foram boas ou, mesmo, óptimas, logo havendo quem perguntasse “quando voltamos?”. Eu também gostei de visitar alguns locais; outros ficaram para uma próxima. Agora, havia que rumar a casa, via Figueira de Castelo Rodrigo, Almeida, autoestrada da Beira Interior, etc.
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Caro Jacinto Alves, agradeço as suas palavras. Praticamente, todos os anos faço uma ronda pelo Vale do Douro com amigos autocaravanistas (o Douro no Outono foi a última) mas não tenho tido oportunidade de elaborar um artigo. Os relatos aqui… Ler mais »